sexta-feira, setembro 12, 2014

O Rei de Amarelo (Robert W. Chambers)




Após assistir à ótima série True Detective, fiquei muito interessado pelo livro O Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers, que teria servido de inspiração para alguns elementos da trama. Publicada em 1895, a obra reúne dez contos, dos quais somente os quatro primeiros fazem menção ao personagem título. Antes de mais nada, quero frisar que, para se apreciar o livro, é indispensável ler a edição da Intrínseca (e não estou ganhando nada pela publicidade), já que há uma grande quantidade de notas explicativas no fim de cada história, que tornam a leitura muito mais interessante, sem mencionar a completíssima introdução assinada por Carlos Orsi, um especialista em Chambers. Vamos, portanto, ao que interessa:

O Reparador de Reputações
Um dos contos mais longos, passa-se em uma Nova Iorque distópica, onde o governo implantou câmaras públicas de suicídio nas praças. Acompanhamos a rotina do protagonista, que leu o texto da peça maldita O Rei de Amarelo, e parece ir enlouquecendo. Confesso que não gostei muito dessa história, mas ela é importante por introduzir o universo criado por Chambers. Como foi o conto que me apresentou ao trabalho do autor, também me chamou a atenção o fato de parecer bastante moderno para um texto do século XIX. No fim das contas, ele causa bastante estranheza e, de certo modo, assusta. É o que mais tem a presença dos elementos do rei de amarelo.

A Máscara
Contrariando a opinião geral, que prefere outro conto do livro, este aqui foi o que mais gostei. Conta sobre um jovem artista que descobre uma fórmula para transformar qualquer coisa em uma estátua de mármore. O final é surpreendente.

No Pátio do Dragão
Um homem que leu a peça O Rei Amarelo começa a ser perseguido por um estranho nas ruas. Tem um perfeito clima de paranóia, e um final que me lembrou uma cena de True Detective, quando Rust contempla uma visão no último episódio.


O Emblema Amarelo
Este é o que a maioria considera como o melhor do livro, e talvez seja mesmo. Trata da relação entre um pintor e a sua jovem modelo. O clima vai pesando quando eles descrevem alguns pesadelos que andam tendo, e principalmente quando entra em cena um misterioso personagem que lembra muito os vampiros dos livros antigos – sem romantismo, apenas o mal encarnado. O rei de amarelo aparece bem no final, concluindo o caos e a desgraça anunciados pelo personagem que citei há pouco.

E então acabam as histórias do livro envolvendo o misterioso rei. Com apenas quatro contos Chambers criou um mundo fantástico que gera muitas discussões. Pouco se sabe sobre a peça maldita, mas ela sugere inúmeras possibilidades e isto tem fascinado as pessoas. Um lance muito legal do autor é fazer ligações entre os quatro contos. O personagem principal de um aparece como coadjuvante em outro; o cenário de uma história é visitado rapidamente em outra, etc. E no fim das contas, ficamos sabendo muito pouco sobre a tal peça, o rei amarelo e Carcosa, mas sabemos que quem a leu, endoidou de vez. E como todos os contos são narrados em primeira pessoa, acompanhamos a descida à insanidade através de suas próprias palavras – e é aí que o autor oferece seus melhores momentos , utilizando a linguagem para criar uma sensação única no leitor, de confusão e insanidade.

O livro ainda conta com outros seis contos que nada se referem à peça citada, sendo que alguns contêm elementos fantásticos, enquanto outros são apenas histórias românticas (e ainda assim, há interessantes ligações que podem ser feitas com as anteriores). Enfim, tudo o que Chambers escreveu sobre o rei amarelo se encontra em apenas quatro contos, que não estão entre os melhores que eu já li, mas que têm grande importância pelo fato de gerar discussões e provocar o entusiasmo de milhares de leitores ao redor do mundo, desde a época em que foram lançados.

L.F.Riesemberg

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